Humberto Pinho
da Silva
Vitorino Nemésio [foto] era professor universitário, de cultura invulgar, e grande erudito; mas as
lições monótonas e muito maçadoras, não despertavam o interesse dos alunos.
Certa ocasião, João Nobre – conhecido maestro e
compositor português, – ia adormecendo, ao assistir à aula, do professor.
Cansado e entediado, resolveu levantar-se, e sair.
O Mestre, estava atento. Parando a dissertação,
virou-se e perguntou-lhe:
“Então, vai sair?!”
João Nobre, jovem irreverente, respondeu-lhe, sem refletir:
”Não aguento mais. O Senhor Professor, é um grande maçador!”
E sem mais, abandonou a sala de aula.
Vitorino Nemésio retomou a exposição como se nada
tivesse passado.
Mais tarde, João Nobre, pensando melhor, receou
que a precipitada atitude poderia ser considerada afronta, ao Mestre. Receoso,
deixou de aparecer na Faculdade. Certificando-se, por colegas, que nada
constava sobre o assunto, começou a frequentar as aulas; mas não as do
Professor Vitorino.
Por fim, ganhando coragem, sorrateiramente, entrou
na sala do Mestre, sentando-se na última fila. Mas, o Professor, ao vê-lo,
disse-lhe, em alta voz:
Nemésio tornou-se o intelectual mais popular do
seu tempo, graças à rubrica: “Se Bem me Lembro”, na televisão.
O Professor nasceu, a 19-12-1901, na Terceira
(Açores).
Foi católico, mas no correr dos anos, afastou-se
de Cristo. Em Coimbra colaborou em revistas culturais e aderiu à Maçonaria, na
loja: “A Revolta”.
Formou-se com alta classificação em Filologia
Românica, pela Faculdade de Lisboa.
Casou, em 1926, com Dona Gabriela Monjardino
Azevedo Gomes, e teve quatro filhos.
Mas… quarta-feira santa, do ano de 1954, foi visitar
D Manuel de Almeida Trindade (Bispo de Aveiro).
Falaram durante três longas horas. No final,
Vitorino Nemésio, tinha os olhos húmidos, e a voz trancada pela comoção.
As lágrimas, escorriam-lhe pela face, quando o
notável professor – e futuro diretor do matutino: “O Dia”, – rogava, ao
sacerdote, a absolvição.
Toda essa cena comovedora é narrada em: “Memórias
de um Bispo”, por D. Manuel Almeida Trindade.
O Professor, congraçou-se, definitivamente, com
Deus. O maçônico e “velho” republicano, nascera de novo.
Título e
Texto: Humberto Pinho da Silva
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