“Depois de casado, ele modifica-se…”
– dizia certa mocinha a sua mãe, convencida que o matrimónio era uma espécie de
varinha de condão, que transforma tudo ao nosso belo prazer. Mas, infelizmente, não é.
Realmente modifica; mas não é repentinamente. Essa
modificação, demora anos, por vezes décadas…
A personalidade do cônjuge foi formada por:
educação recebida; ambiente em que viveu; experiências que teve; traumas que
passou na infância e na adolescência.
É preciso, quantas vezes, realizar esforço, quase
titânico, para aceitar o parceiro.
Se é verdade que a personalidade dos casais, pouco
a pouco tende a se assemelhar porque recebem influências idênticas; também é
verdade que a personalidade não é estável. Está sempre em constante evolução,
por vezes para melhor, outras, infelizmente, para pior.
A mocinha que dizia à mãe, que o noivo, depois de
casado, modificaria, falava verdade… mas não toda. No caso apresentado, o
casamento não alterou – a não ser no início, – o caráter do marido, nem o seu
espírito de Dom Juan.
Decorridos anos, conquistou os favores de mulher
elegante, de boa posição social. Com ela vangloriava-se diante dos amigos, e
entrava, sem pejo, de braço dado nas festas que frequentava, enquanto a mulher
ficava no lar, com os filhos…
Alertada pelas amigas, fez de conta que não
entendia; até que a melhor amiga, interrogou-a: “Não tens vergonha de ser assim
ultrajada?! …”
Abriram-se, então, os olhos, e vendo a situação
ridícula em que vivia, pediu divórcio, apartando-se daquele que lhe havia feito
promessas de amor eterno.
A vida conjugal é feita mais de pequenas
renúncias, que de grandes conquistas…
Para haver harmonia no lar, é mister que ambos
tentem agradar-se mutuamente, privando-se, por vezes, de desejos e prazeres,
para que o outro se sinta feliz e retribua.
O amadurecimento da personalidade de cada um,
realiza-se lentamente, muito lentamente, e depende muito da escolha que se fez.
Se ambos tiverem gostos semelhantes, religião,
cultura, e principalmente forem crentes convictos e tementes a Deus, a harmonia
surge facilmente, porque a vida conjugal não é apenas física, mas espiritual.
Problema sempre difícil de solucionar, que se
agudizou nos dias de hoje, é o facto de a mulher, usufruir rendimento superior
ao marido. A mente masculina custa-lhe aceitar a situação de inferioridade,
seja cultural ou monetária.
Jovem médico, meu conhecido, desistiu de casar com
colega, porque esta, além de ser considerada competentíssima, recebia
vencimento superior ao seu…
Dificuldade – que não é difícil de ser
ultrapassada, desde que haja compreensão e boa vontade de ambos, – mas que
sempre foi problema para a felicidade do lar.
Na “Carta
de Guia de Casados” o nosso clássico, D. Francisco Manuel de Mello,
recomenda, igualdade: “no ser, no saber e no ter.”
Em suma, o casamento não resolve todos os
problemas, por vezes, complica; mas os cônjuges, que buscam a felicidade, não
devem descurar pequenos grandes conselhos, que vão suavizar as relações.
Não criticar; ser atencioso; interessar-se pelos
sucessos do cônjuge; e sobretudo, aceitá-lo como é, com defeitos e limitações…
Nunca esqueça: Não há ninguém perfeito…
Título e
Texto: Humberto Pinho da Silva
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