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Por O Globo — Washington

O secretário de Estado dos EUA, Antony J. Blinken, disse nesta quarta-feira que a Faixa de Gaza deveria ser unificada com a Cisjordânia sob a Autoridade Nacional Palestina (ANP) assim que terminar o conflito entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas, no sinal mais forte até agora do que o governo de Joe Biden vê como necessário para “estabelecer condições para uma paz duradoura” após o fim da crise. A declaração foi feita enquanto autoridades em Israel dão sinais de que consideram reocupar o território — como ocorria antes da retirada unilateral de militares de colonos israelenses do enclave, em 2005 —, atraindo críticas de seus aliados no Ocidente.

— As vozes e aspirações da população palestina têm de estar no centro da governança pós-crise em Gaza — disse Blinken no Japão, onde participou de uma reunião de chanceleres do G7. — É necessária uma governança liderada pelos palestinos e uma Gaza unificada com a Cisjordânia sob a Autoridade Palestina.

Blinken marcou uma posição mais clara do que as declarações feitas na véspera por um porta-voz da Casa Branca, que indicou que os EUA se opõem à reocupação do enclave após o primeiro-ministro de Israel,Benjamin Netanyahu, dizer na segunda-feira que seu país manteria um papel de segurança por um "período indefinido" no território. Na terça-feira, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou que um dos objetivos finais da incursão terrestre ao enclave é garantir às forças israelenses liberdade de ação em Gaza "sem limitações nas operações".

— [A governança] Também deve incluir um mecanismo sustentável para a reconstrução em Gaza e um caminho para israelenses e palestinos viverem lado a lado em seus próprios estados, com medidas iguais de segurança, liberdade, oportunidade e dignidade — afirmou o secretário de Estado.

Blinken, porém, não ofereceu detalhes de como tal acordo seria implementado. De qualquer forma, restaurar a ANP — que administra partes da Cisjordânia — ao poder em Gaza não seria fácil mesmo se Israel conseguir pôr fim ao controle do Hamas em Gaza. O líder da ANP, Mahmoud Abbas, tem idade avançada e é extremamente impopular. Muitos palestinos o consideram corrupto e veem que suas tentativas de conquistar independência por meio de negociações fracassaram.

O chanceler britânico, James Cleverly, ecoou a fala de Blinken após o encontro do G7.

— No curto prazo, é inevitável que Israel, por ter tropas em Gaza, precise ter uma responsabilidade de segurança. Mas a nossa opinião é que, assim que possível, um movimento em direção a uma liderança palestina favorável à paz é o resultado mais desejado.

Direita radical em Israel

Em Israel, a coalizão de Netanyahu depende de radicais de direita — incluindo alguns em seu próprio partido, o Likud, de centro-direita — que são contrários a um Estado palestino e veem a ANP como ligeiramente melhor do que o Hamas. O gabinete de Netanyahu se eximiu de fazer comentários sobre as declarações de Blinken.

O ministro da Educação de Israel, Yoav Kisch, disse nesta quarta-feira que seu país não será capaz de sair do enclave imediatamente depois do fim do conflito, já que será necessário garantir que quem controlar o território não represente uma "ameaça para Israel".

Kisch, que também é do Likud, também pontuou não descartar um cenário em que Israel construa assentamentos na Faixa de Gaza, mesma posição manifestada nas últimas semanas pelo ministro do Patrimônio, Amichai Eliyahu, que foi suspenso no sábado após sugerir o uso de armas nucleares na Faixa de Gaza.

— Não há um status quo, e nada é sagrado — disse Kisch à rádio do Exército, citado pelo jornal israelense Haaretz. — Israel pode certamente trazer de nova os colonos e redesenhar as fronteiras.

Apesar de suas declarações, Kisch afirmou que Israel não tem interesse em controlar Gaza indefinidamente.

Os comentários, que tiveram tom semelhante a de parlamentares israelenses, causaram mal-estar entre diplomatas de países do Ocidente que apoiam Israel contra o Hamas. Ouvidos pelo Haaretz, eles indicaram que essas manifestações minam os esforços diplomáticos de Israel e sua diplomacia pública. Também advertiram que, apesar de não prejudicarem de imediato o apoio ao país, haverá consequências se as palavras se converterem em ações.

Netanyahu desatou a discussão sobre o que será de Gaza após conflito ao afirmar, na segunda-feira, que o país terá a “responsabilidade total pela segurança” do enclave "por um período indefinido" depois do fim da ofensiva israelense, que entrou no segundo mês.

— Vimos o que acontece quando não a temos — disse o primeiro-ministro em uma entrevista à rede americana ABC News. — Quando não temos essa responsabilidade de segurança, vemos a erupção do terror do Hamas em uma escala que não poderíamos imaginar.

As declarações do premier acenderam sinal vermelho em Washington, estimulando declarações do porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, e do porta-voz do Departamento de Estado, Vedant Patel, contra a reocupação do território.

— Na nossa opinião, os palestinos deveriam estar na vanguarda dessas decisões, Gaza é território palestino e continuará sendo território palestino — disse Patel a repórteres. — De modo geral, não apoiamos a reocupação de Gaza e Israel também não.

Em uma entrevista à rede americana MSNBC na noite de terça, o ministro dos Assuntos Estratégicos de Israel, Ron Dermer, negou que o primeiro-ministro tenha falado em “ocupar Gaza”, reiterando que o objetivo será apenas adotar medidas de segurança que impeçam ataques contra Israel.

— Nós nos retiramos completamente de Gaza durante 17 anos, e eles nos devolveram um estado terrorista. É óbvio que não podemos repetir isso — disse Dermer, que participa como observador no gabinete de guerra israelense.

'Quem administrará Gaza?'

Questionado sobre como Israel exercerá a segurança do território assim que o Hamas não estiver mais no poder, o ministro disse que a questão ainda está em aberto, mas garantiu que “não será uma ocupação”. Ao mesmo tempo, admitiu que Israel enfrentará "o dilema do dia seguinte" depois de cumprir seu objetivo declarado de acabar com o Hamas.

— Quem administrará Gaza? Se for uma força palestina que governa Gaza para o bem-estar dos seus habitantes e sem querer destruir Israel, então podemos conversar — disse ele.

Durante uma audiência especial da Comissão de Relações Exteriores e Segurança da Knesset (Parlamento de Israel) na terça-feira, o ministro da Defesa afirmou que os objetivos após o fim do conflito em Gaza são remover a ameaça de segurança para os cidadãos israelenses, pôr fim à atividade militar e governamental do Hamas e garantir às forças israelenses liberdade de ação em Gaza "sem limitações nas operações".

Mais tarde, porém, durante uma coletiva de imprensa, ele afirmou que Israel não controlará o enclave depois do conflito.

— Posso lhe dizer quem não vai governar (Gaza). Não será o Hamas, e não será Israel. Tudo mais é uma possibilidade — disse Gallant.

Para Jonathan Rynhold, chefe do Departamento de Estudos Políticos da Universidade de Bar-Ilan, em Tel Aviv, é preciso considerar a diferença entre uma ocupação de Gaza, com assentamentos e colonos, que vem aparecendo no discurso de autoridades de extrema direita, e o controle de segurança do território, defendido por Netanyahu e Gallant.

— Não vejo como uma possibilidade realista Israel colocando assentamentos na Faixa de Gaza. Se Israel retiver a responsabilidade de segurança geral, pode fazer isso sem reocupar Gaza — explica. — Israel mantém a responsabilidade geral de segurança na Cisjordânia sem ocupar a área A, que está completamente sob a ANP. E sem ocupar a área B, onde tem controle de segurança, mas não o controle civil.

A divisão em áreas da Cisjordânia foi definida no âmbito dos acordos de Oslo, uma das tentativas de acordo de paz entre os dois lados mais emblemática, assinada em 1993. Além das áreas A e B, há a área C, onde Israel tem o controle total.

Israel não fazia uma incursão militar terrestre em Gaza desde 2014. O enclave palestino já foi território ocupado por assentamentos e militares israelenses, como é a Cisjordânia. Os israelenses se retiraram de Gaza em 2005, em um controvertido movimento unilateral que enfrentou dura resistência dos próprios colonos israelenses.

O governo do então primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, tomou a decisão após a revolta conhecida como Segunda Intifada e uma escalada de violência que tornou difícil proteger os milhares de colonos que viviam no território.

No ano seguinte, o Hamas venceu as únicas eleições parlamentares realizadas em Gaza e, em 2007, expulsou do enclave o Fatah, o grupo político que controla a ANP de Abbas, após uma breve guerra civil.

Rynhold acredita que Israel não defende abertamente uma solução para Gaza que envolva a ANP pela natureza extremista de sua coalizão, apesar de, na Cisjordânia, haver coordenação entre israelenses e a ANP.

— Enquanto parece que há uma diferença colossal entre a posição americana e a posição israelense, não é necessariamente isso. Mas, nesse momento, Netanyahu não vai dizer nada que afaste seus parceiros de extrema direita, nos quais ele se apoia e sem os quais seu governo vai cair — analisa. — O que acontecerá depois da guerra vai depender muito da política israelense. Mas qualquer coalizão diferente da que temos hoje, de centro-direita ou de centro-esquerda, não terá problema em resolver com os americanos de algum modo.

Em entrevista ao GLOBO, no início da guerra, o coordenador de estudos do Oriente Médio da Universidade de São Francisco, Stephen Zunes, alertou para a instabilidade de um possível cenário “pós-Hamas”.

— Se o Hamas parar de funcionar como um grupo armado ou um governo, não há garantia de que não será substituído por um grupo terrorista, e possivelmente ainda mais extremo.

Em abril, um relatório do Crisis Group mostrou que, nos últimos dois anos, uma nova geração de grupos armados surgiu entre os palestinos da Cisjordânia, aparentemente sem vinculação direta com grupos organizados, como o Fatah e o Hamas. Desde o início dos bombardeios de Israel sobre Gaza, em resposta ao atentado de 7 de outubro, foram vistas várias manifestações na Cisjordânia em que Abbas e o Fatah era alvos dos manifestantes.

Em resposta às declarações sobre o futuro de Gaza sem o Hamas, o porta-voz do grupo, Abdel Latif al-Qanou, disse no Telegram que “o nosso povo está em simbiose com a resistência e decidirá o seu futuro”. Em entrevista à rede al-Jazeera Arabic, Ghazi Hamad, um alto integrante do Hamas, respondeu com ironia a declarações de autoridades americanas sobre o pós-guerra em Gaza.

— Acho que os americanos estão sonhando muito — afirmou Hamad, acrescentando: — Eles falharam no Iraque, no Afeganistão, na Somália... Agora querem reestruturar Gaza? (colaborou Aline Rabello)

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