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Projeto usa reprodução artificial para salvar a Grande Barreira de Coral

Estudo piloto de reimplante de larvas de corais na Ilha Heron foi bem-sucedido

Peter Harrison liderou o projeto de reimplante de larvas de corais em recife
Foto: Craig Sillitoe / Universidade Southern Cross
Peter Harrison liderou o projeto de reimplante de larvas de corais em recife Foto: Craig Sillitoe / Universidade Southern Cross

SYDNEY — A Grande Barreira de Coral da Austrália é um dos Patrimônios Mundiais da Unesco mais ameaçados pelas mudanças climáticas. Nos

últimos anos, a imensa faixa de corais que se estende por 2.200 quilômetros da costa australiana vem sofrendo por um fenômeno conhecido como “branqueamento”, provocado pelo aquecimento e pela acidificação das águas. Para reverter o processo de destruição, pesquisadores da Universidade Southern Cross utilizaram, com sucesso, uma técnica de fertilização artificial e reimplante das larvas.

— Este é o primeiro projeto do tipo na Grande Barreira de Coral a restabelecer uma população de corais juvenis a partir da colocação de larvas diretamente no recife — explicou o professor Peter Harrison, líder do projeto. — O estudo piloto realizado na Ilha Heron mostra que nossas novas técnicas para ajudar os corais na concepção, instalação, desenvolvimento e crescimento no ambiente natural pode funcionar.

Em novembro do ano passado, durante o período de desova em massa, Harrison e sua equipe coletaram vastas quantidades de ovos e esperma de corais, utilizados num processo de reprodução artificial que resultou no desenvolvimento de mais de um milhão de larvas. Então, elas foram implantadas em recifes, protegidas por malhas subaquáticas. Agora, um ano depois, os pesquisadores retornaram à Ilha Heron e descobriram que os corais implantados se estabeleceram com sucesso.

— Os resultados são muito promissores e nosso trabalho mostra que adicionar densidades de larvas mais altas leva a um número maior de corais bem-sucedidos — comentou o cientista. — Nós vamos monitorar o crescimento das colônias e trabalhar para aperfeiçoar a técnica para aplicações mais amplas no futuro.

Segundo Harrison, o projeto foi inspirado num trabalho similar realizado nas Filipinas, num recife extremamente degradado por causa da pesca. A técnica é uma nova arma para a restauração de recifes, estruturas essenciais para a fauna marinha. Até então, projetos de recuperação usavam a “jardinagem de corais”, que consiste em retirar pedaços de corais saudáveis e colocá-los de volta em outro lugar, com a esperança que eles cresçam.


Corais sofrem com o branqueamento na Grande Barreira australiana
Foto: David Bellwood / AP
Corais sofrem com o branqueamento na Grande Barreira australiana Foto: David Bellwood / AP

— A jardinagem de corais é a técnica mais usada em regiões de recifes, mas nós sabemos que ela é cara e muitas vezes não funciona bem ou falha completamente — avaliou o pesquisador, que defende o uso da nova técnica. — Estudos mostraram que os corais podem crescer de larvas microscópicas para colônias adultas em três anos. Este trabalho na Ilha Heron é o primeiro passo para provar que podemos aplicar essas técnicas na Grande Barreira de Coral.

Anna Marsden, diretora da Fundação Grande Barreira de Coral, comemorou o resultado do projeto, que pode alterar os esforços de conservação. Até então, os programas visavam oferecer aos corais os ambientes ideais para o desenvolvimento natural, proibindo a pesca e evitando a poluição da água.

— É maravilhoso ter outra ferramenta no arsenal para a nossa Grande Barreira de Coral — disse Marsden. — É hora de sermos ousados e assumirmos alguns riscos calculados, porque é assim que faremos uma mudança na forma como ajudamos a restaurar os nossos recifes. Também é importante temos em mente que opções de restauração como essa não diminuem a necessidade de ações fortes para reduzir as principais causas dos declínios em recifes, sendo a mudança climática, a qualidade da água e o manejo de pragas.